Desde os primeiros séculos da Igreja, houve
homens e mulheres que se sentiram chamados a imitar a condição de servo
abraçada pelo Verbo encarnado, e puseram-se a segui-Lo vivendo de um modo
específico e radical, na profissão monástica, as exigências derivadas da
participação baptismal no mistério pascal da sua morte e ressurreição. Deste
modo, fazendo-se portadores da Cruz (staurophóroi), comprometeram-se a
tornar-se portadores do Espírito (pneumatophóroi), homens e mulheres autenticamente
espirituais, capazes de em segredo fecundar a história, com o louvor e a
intercessão contínua, com os conselhos ascéticos e as obras de caridade. Com a
intenção de transfigurar o mundo e a vida enquanto se aguarda a visão
definitiva do rosto de Deus, o monaquismo oriental privilegia a conversão, a
renúncia a si próprio e a contrição do coração, a procura da esichia,
isto é, da paz interior, e a prece incessante, o jejum e as vigílias, a luta
espiritual e o silêncio, a alegria pascal pela presença do Senhor e pela
expectativa da sua vinda definitiva, a oferta de si mesmo e dos próprios bens,
vivida na santa comunhão do mosteiro ou na solidão eremítica. Também o Ocidente
praticou, desde os primeiros séculos da Igreja, a vida monástica, registando
uma grande variedade de expressões tanto no âmbito comunitário como no
eremítico. Na sua forma actual, inspirada especialmente em S. Bento, o
monaquismo ocidental recolhe a herança de tantos homens e mulheres que,
renunciando à vida levada no mundo, procuraram a Deus e a Ele se dedicaram, «
sem nada antepor ao amor de Cristo » (12).Também
os monges de hoje se esforçam por conciliar harmoniosamente a vida interior
e o trabalho , no compromisso evangélico da conversão dos costumes, da
obediência, da clausura, e na dedicação assídua à meditação da Palavra (lectio
divina), à celebração da liturgia, à oração. Os mosteiros foram e continuam
a ser, no coração da Igreja e do mundo, um sinal eloquente de comunhão, um lugar
acolhedor para aqueles que buscam Deus e as coisas do espírito, escolas de fé e
verdadeiros centros de estudo, diálogo e cultura para a edificação da vida
eclesial e também da cidade terrena, à espera da celeste.
A Ordem das virgens, os
eremitas, as viúvas
Um motivo de alegria e esperança é ver que hoje
volta a florescer a antiga Ordem das virgens, cuja presença nas
comunidades cristãs é testemunhada desde os tempos apostólicos.
Consagradas pelo Bispo diocesano, elas contraem um vínculo particular com a
Igreja, a cujo serviço se dedicam, mesmo permanecendo no mundo. Sozinhas ou
associadas, constituem uma imagem escatológica especial da Esposa celeste e
da vida futura, quando, finalmente, a Igreja viverá em plenitude o seu amor
por Cristo Esposo.
Os homens e as mulheres eremitas, ligados
a Ordens antigas ou a novos Institutos ou então dependentes directamente do
Bispo, testemunham através da separação interior e exterior do mundo o carácter
provisório do tempo presente, e pelo jejum e pela penitência atestam que o
homem não vive só de pão, mas da Palavra de Deus (cf. Mt 4,4). Uma vida
assim « no deserto » é um convite aos indivíduos e à própria comunidade
eclesial para nunca perderem de vista a vocação suprema, que é estar
sempre com o Senhor.
Hoje voltou a ser praticada também a consagração
tanto das viúvas, conhecida
desde os tempos apostólicos (cf. 1 Tim 5,5.9-10; 1 Cor 7,8), como
dos viúvos. Estas pessoas, mediante o voto de castidade perpétua como sinal do
Reino de Deus, consagram a sua condição para se dedicarem à oração e ao serviço
da Igreja.
(EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
PÓS-SINODAL
VITA CONSECRATA)